Muitos desprezam a Teologia e a relegam a segundo plano, como se esta fosse uma ferramenta puramente humana e responsável por afastar o homem de Deus, tornando-o frio e insensível. Na verdade, é justamente o oposto que a Teologia faz. A Teologia estudada e aplicada da forma correta aproximará o homem de Deus da forma adequada, com a atitude certa e produzirá um coração devotado e fiel ao SENHOR, segundo os princípios que Ele mesmo estabeleceu em Sua Palavra.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia

NOTA: Esta foi a Declaração que deu origem ao Concílio Internacional sobre Inerrância Bíblica (ICBI - International Council on Biblical Inerrancy), um esforço comum inter-denominacional de centenas de eruditos e líderes evangélicos para defender a inerrância bíblica contra os conceitos da Escritura de tendência liberal e neo-ortodoxa.

A Declaração foi produzida por Hyatt Regency O'Hare, em Chicago, no verão de 1978, durante uma conferência internacional suprema de líderes evangélicos interessados. Ela foi assinada por aproximadamente 300 eruditos evangélicos famosos, incluindo Boice, Norman L. Geisler, John Gerstner, Carl F. H. Henry, Kenneth Kantzer, Harold Lindsell, John Warwick Montgomery, Roger Nicole, J.I. Packer, Robert Preus, Earl Radmacher, Francis Schaeffer, R.C. Sproul e John Wenham.

A ICBI se despediu em 1988 com sua obra completa. O congresso no final das contas produziu três maiores declarações: esta sobre inerrância bíblica, em 1978; uma sobre hermenêutica bíblica, em 1982, e uma sobre aplicação bíblica, em 1986.


A Declaração a seguir discorre sobre a doutrina da inerrância das Escrituras, esclarecendo-nos sobre o que isso vem a ser e advertindo-nos contra a sua negação. Estamos convencidos de que negá-la é ignorar o testemunho dado por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, e rejeitar aquela submissão às reivindicações da própria palavra de Deus. Diante da enxurrada de desvios doutrinários que tem invadido a Igreja, é dever de cada crente manter-se firmemente apegado à Escritura, tendo como certa a sua suficiência e a sua inerrância.


A Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia

Prefácio

A autoridade das Escrituras é um tema chave para a igreja cristã, tanto desta quanto de qualquer outra época. Aqueles que professam fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador são chamados a demonstrar a realidade de seu discipulado cristão mediante obediência humilde e fiel à Palavra escrita de Deus. Afastar-se das Escrituras, tanto em questões de fé quanto em questões de conduta, é deslealdade para com nosso Mestre. Para que haja uma compreensão plena e uma confissão correta da autoridade das Sagradas Escrituras é essencial um reconhecimento da sua total veracidade e confiabilidade.

A Declaração a seguir afirma sob nova forma essa inerrância das Escrituras, esclarecendo nosso entendimento a respeito dela e advertindo contra sua negação. Estamos convencidos de que nega-la é ignorar o testemunho dado por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, e rejeitar aquela submissão às reivindicações da própria palavra de Deus, submissão esta que caracteriza a verdadeira fé cristã. Entendemos que é nosso dever nesta hora fazer esta afirmação diante dos atuais desvios da verdade da inerrância entre nossos irmãos em Cristo e diante do entendimento errôneo que esta doutrina tem tido no mundo em geral.

Esta Declaração consiste de três partes: uma Declaração Resumida, Artigos de Afirmação e Negação, e uma Explanação. Preparou-se a Declaração durante uma consulta de três dias de duração, realizada em Chicago, nos Estados Unidos. Aqueles que subscreveram a Declaração Resumida e os Artigos desejam expressar suas próprias convicções quanto à inerrância das Escrituras e estimular e desafiar uns aos outros e a todos os cristãos a uma compreensão e entendimento cada vez maiores desta doutrina. Reconhecemos as limitações de um documento preparado numa conferência rápida e intensiva e não propomos que esta Declaração receba o valor de um credo. Regozijamo-nos, no entanto, com o aprofundamento de nossas próprias convicções através dos debates que tivemos juntos, e oramos para que esta Declaração que assinamos seja usada para a glória de Deus com vistas a uma nova reforma na Igreja no que tange a sua fé, vida e missão.

Apresentamos esta Declaração não num espírito de contenda, mas de humildade e amor, o que, com a graça de Deus, pretendemos manter em qualquer diálogo que, no futuro, surja daquilo que dissemos. Reconhecemos (...) que muitos que negam a inerrância das Escrituras não apresentam em suas crenças e comportamento as conseqüências dessa negação, e estamos conscientes de que nós, que confessamos essa doutrina, freqüentemente a negamos em nossa vida, por deixarmos de trazer nossos pensamentos e orações, tradições e costumes, em verdadeira sujeição à Palavra divina.

Qualquer pessoa que veja razões, à luz das Escrituras, para fazer emendas às afirmações desta Declaração sobre as próprias Escrituras (sob cuja autoridade infalível estamos, enquanto falamos), é convidada a fazê-lo. Não reivindicamos qualquer infalibilidade pessoal para o testemunho que damos, e seremos gratos por qualquer ajuda que nos possibilite fortalecer este testemunho acerca da Palavra de Deus.

A COMISSÃO DE REDAÇÃO

Uma Breve Declaração

Deus, sendo Ele Próprio a Verdade e falando somente a verdade, inspirou as Sagradas Escrituras a fim de, desse modo, revelar-Se à humanidade perdida, através de Jesus Cristo, como Criador e Senhor, Redentor e Juiz. As Escrituras Sagradas são o testemunho de Deus sobre Si mesmo.

As Escrituras Sagradas, sendo apropria Palavra de Deus, escritas por homens preparados e supervisionados por Seu Espírito, possuem autoridade divina infalível em todos os assuntos que abordam: devem ser cridas, como instrução divina, em tudo o que afirmam; obedecidas, como mandamento divino, em tudo o que determinam; aceitas, como penhor divino, em tudo que prometem.

O Espírito Santo, seu divino Autor, ao mesmo tempo no-las confirma através de Seu testemunho interior e abre nossas mentes para compreender seu significado.

Tendo sido na sua totalidade e verbalmente dadas por Deus, as Escrituras não possuem erro ou falha em tudo o que ensinam, quer naquilo que afirmam a respeito dos atos de Deus na criação e dos acontecimentos da história mundial, quer na sua própria origem literária sob a direção de Deus, quer no testemunho que dão sobre a graça salvadora de Deus na vida das pessoas.

A autoridade das Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa inerrância divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada, ou caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja contrário ao próprio ponto de vista da Bíblia; e tais desvios provocam sérias perdas tanto para o indivíduo quanto para a Igreja.

Artigos de Afirmação e Negação

Artigo I

Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus.

Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de qualquer outra fonte humana.

Artigo II

Afirmamos que as Sagradas Escrituras são a suprema norma escrita, pela qual Deus compele a consciência, e que a autoridade da Igreja está subordinada à das Escrituras.

Negamos que os credos, concílios ou declarações doutrinárias da Igreja tenham uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bíblia.

Artigo III

Afirmamos que a Palavra escrita é, em sua totalidade, revelação dada por Deus.

Negamos que a Bíblia seja um mero testemunho a respeito da revelação, ou que somente se torne revelação mediante encontro, ou que dependa das reações dos homens para ter validade.

Artigo IV

Afirmamos que Deus, que fez a humanidade à Sua imagem, utilizou a linguagem como um meio de revelação.
Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condição de sermos criaturas, a tal ponto que se apresente imprópria como veículo de revelação divina. Negamos ainda mais que a corrupção, através do pecado, da cultura e linguagem humanas tenha impedido a obra divina de inspiração.

Artigo V

Afirmamos que a revelação de Deus dentro das Sagradas Escrituras foi progressiva.

Negamos que revelações posteriores, que podem completar revelações mais antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelações. Negamos ainda mais que qualquer revelação normativa tenha sido dada desde o término dos escritos do Novo Testamento.

Artigo VI

Afirmamos que a totalidade das Escrituras e todas as suas partes, chegando às próprias palavras do original, foram por inspiração divina.

Negamos que se possa corretamente falar de inspiração das Escrituras, alcançando-se o todo mas não as partes, ou algumas partes mas não o todo.

Artigo VII

Afirmamos que a inspiração foi a obra em que Deus, por Seu Espírito, através de escritores humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras é divina. O modo como se deu a inspiração permanece em grande parte um mistério para nós.

Negamos que se possa reduzir a inspiração à capacidade intuitiva do homem, ou a qualquer tipo de níveis superiores de consciência.

Artigo VIII

Afirmamos que Deus, em Sua obra de inspiração, empregou as diferentes personalidades e estilos literários dos escritores que Ele escolheu e preparou.

Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as próprias palavras que Ele escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.

Artigo IX

Afirmamos que a inspiração, embora não outorgando o­nisciência, garantiu uma expressão verdadeira e fidedigna em todas as questões sobre as quais os autores bíblicos foram levados a falar e a escrever.

Negamos que a finitude ou a condição caída desses escritores tenha, direta ou indiretamente, introduzido distorção ou falsidade na Palavra de Deus.

Artigo X

Afirmamos que, estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto autográfico das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais que as cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de Deus na medida em que fielmente representam o original.

Negamos que qualquer aspecto essencial da fé cristã seja afetado pela falta dos autógrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne inválida ou irrelevante a afirmação da inerrância da Bíblia.

Artigo XI

Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são infalíveis, de modo que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as questões de que tratam.

Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo infalível e errônea em suas afirmações. Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não separadas.

Artigo XII

Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano.

Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses científicas acerca da história da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino das Escrituras a respeito da criação e do dilúvio.

Artigo XIII

Afirmamos a propriedade do uso de inerrância como um termo teológico referente à total veracidade das Escrituras.

Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padrões de verdade e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades, uso de hipérbole e números arredondados, disposição tópica do material, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.

Artigo XIV

Afirmamos a unidade e a coerência interna das Escrituras.

Negamos que alegados erros e discrepâncias que ainda não tenham sido solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à verdade.

Artigo XV

Afirmamos que a doutrina da inerrância está alicerçada no ensino da Bíblia acerca da inspiração.

Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido sob o argumento de adaptação ou de qualquer limitação natural decorrente de Sua humanidade.

Artigo XVI

Afirmamos que a doutrina da inerrância tem sido parte integrante da fé da Igreja ao longo de sua história.

Negamos que a inerrância seja uma doutrina inventada pelo protestantismo escolástico ou que seja uma posição defendida como reação contra a alta crítica negativa.

Artigo XVII

Afirmamos que o Espírito Santo dá testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a veracidade da Palavra de Deus escrita.

Negamos que esse testemunho do Espírito Santo opere isoladamente das Escrituras ou em oposição a elas.

Artigo XVIII

Afirmamos que o texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese histórico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literários, e que as Escrituras devem interpretar as Escrituras.

Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes por trás do texto que conduzam a um revigoramento, desistorização ou minimização de seu ensino, ou a uma rejeição de suas afirmações quanto à autoria.

Artigo XIX

Afirmamos que uma confissão da autoridade, infalibilidade e inerrância plenas das Escrituras é vital para uma correta compreensão da totalidade da fé cristã. Afirmamos ainda mais que tal confissão deve conduzir a uma conformidade cada vez maior à imagem de Cristo.

Negamos que tal confissão seja necessária para a salvação. Contudo, negamos ainda mais que se possa rejeitar a inerrância sem graves conseqüências, quer para o indivíduo quer para a Igreja.

Explanação

Nossa compreensão da doutrina da inerrância deve dar-se no contexto mais amplo dos ensinos das Escrituras sobre si mesma. Esta explanação apresenta uma descrição do esboço da doutrina, na qual se baseiam nossa breve declaração e os artigos.

Criação, Revelação e Inspiração

O Deus Triúno, que formou todas as coisas por Sues proferimentos criadores e que a tudo governa pela Palavra de Sua vontade, criou a humanidade à Sua própria imagem para uma vida de comunhão consigo mesmo, tendo por modelo a eterna comunhão da comunicação dentro da Divindade. Como portador da imagem de Deus, o homem deve ouvir a Palavra de Deus dirigida a ele e reagir com a alegria de uma obediência em adoração. Além da auto-revelação de Deus na ordem criada e na seqüência de acontecimentos dentro dessa ordem, desde Adão os seres humanos têm recebido mensagens verbais dEle, quer diretamente, conforme declarado nas Escrituras, quer indiretamente na forma de parte ou totalidade das próprias Escrituras.

Quando Adão caiu, o Criador não abandonou a humanidade ao juízo final, mas prometeu salvação e começou a revelar-Se como Redentor numa seqüência de acontecimentos históricos centralizados na família de Abraão e que culminam com a vida, morte, ressurreição, atual ministério celestial e a prometida volta de Jesus Cristo. Dentro desse arcabouço, de tempos em tempos Deus tem proferido palavras específicas de juízo e misericórdia, promessa e mandamento, a seres humanos pecaminosos, de modo a conduzi-los a um relacionamento, uma aliança, de compromisso mútuo entre as duas partes, mediante o qual Ele os abençoa com dons da graça, e eles O bendizem numa reação de adoração. Moisés, que Deus usou como mediador para transmitir Suas palavras a Seu povo à época do êxodo, está no início de uma longa linhagem de profetas em cujas bocas e escritos Deus colocou Suas palavras para serem entregues a Israel. O propósito de Deus nesta sucessão de mensagens era manter Sua aliança ao fazer com que Seu povo conhecesse Seu Nome, isto é, Sua natureza, e tantos preceitos quanto os propósitos de Sua vontade, quer para o presente, que para o futuro. Essa linhagem de porta-vozes proféticos da parte de Deus culminou em Jesus Cristo, a Palavra encarnada de Deus, sendo Ele um profeta (mais do que um profeta, mas não menos do que isso), e nos apóstolos e profetas da primeira geração de cristãos. Quando a mensagem final e culminante de Deus, Sua palavra ao mundo a respeito de Jesus Cristo, foi proferida e esclarecida por aqueles que pertenciam ao círculo apostólico, cessou a seqüência de mensagens reveladas. Daí por diante, a Igreja devia viver e conhecer a Deus através daquilo que Ele já havia dito, e dito para todas as épocas.

No Sinai, Deus escreveu os termos de Sua aliança em tábuas de pedra, como Seu testemunho duradouro e para ser permanentemente acessível, e ao longo do período de revelação profética e apostólica levantou homens para escreverem as mensagens dadas a eles e através deles, junto com os registros que celebravam Seu envolvimento com Seu povo, além de reflexões éticas sobre a vida em aliança e de formas de louvor e oração em que se pede a misericórdia da aliança. A realidade teológica da inspiração na elaboração de documentos bíblicos corresponde à das profecias faladas: embora as personalidades dos escritores humanos se manifestassem naquilo que escreveram, as palavras foram divinamente dadas. Assim, aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz; a autoridade das Escrituras é a autoridade de Deus, pois Ele é seu derradeiro Autor, tendo entregue as Escrituras através das mentes e palavras dos homens escolhidos e preparados, os quais, livre e fielmente, "falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21). Deve-se reconhecer as Escrituras Sagradas como a Palavra de Deus em virtude de sua origem divina.

Autoridade: Cristo e a Bíblia

Jesus Cristo, o Filho de Deus, que é a Palavra (Verbo) feita carne, nosso Profeta, Sacerdote e Rei, é o Mediador último da comunicação de Deus ao homem, como também o é de todos os dons da graça de Deus. A revelação dada por Ele foi mais do que verbal; Ele também revelou o Pai mediante Sua presença e Seus atos. Suas palavras, no entanto, foram de importância crucial, pois Ele era Deus, Ele falou da parte do Pai, e Suas palavras julgarão ao todos os homens no último dia.

Na qualidade de Messias prometido, Jesus Cristo é o tema central das Escrituras. O Antigo Testamento olhava para Ele no futuro; o Novo Testamento olha para trás, ao vê-lo em Sua primeira vinda, e para frente em Sua segunda vinda. As Escrituras canônicas são o testemunho divinamente inspirado e, portanto, normativo, a respeito de Cristo. Deste modo, não é aceitável alguma hermenêutica em que Cristo não seja o ponto central. Deve-se tratar as Escrituras Sagradas como aquilo que são em essência: o testemunho do Pai a respeito do Filho encarnado.

Parece que o cânon do Antigo Testamento já estava estabelecido à época de Jesus. Semelhantemente, o cânon do Novo Testamento está encerrado na medida em que nenhuma nova testemunha apostólica do Cristo histórico pode nascer agora. Nenhuma nova revelação (distinta da compreensão que o Espírito dá acerca da revelação existente) será dada até que Cristo volte. O cânon foi criado no princípio por inspiração divina. A parte da Igreja foi discernir o cânon que Deus havia criado, não elaborar o seu próprio cânon. Os critérios relevantes foram e são: autoria (ou Sua confirmação), conteúdo e o testemunho confirmador do Espírito Santo.

A palavra cânon, que significa regra ou padrão, é um indicador de autoridade, o que significa o direito de governar e controlar. No cristianismo a autoridade pertence a Deus em Sua revelação, o que significa, de um lado, Jesus Cristo, a Palavra viva, e, de outro, as Sagradas Escrituras, a Palavra escrita. Mas a autoridade de Cristo e das Escrituras são uma só. Como nosso Profeta, Cristo deu testemunho de que as Escrituras não podem falhar. Como nosso Sacerdote e Rei, Ele dedicou Sua vida terrena a cumprir a lei e os profetas, até ao ponto de morrer em obediência às palavras da profecia messiânica. Desta forma, assim como Ele via as Escrituras testemunhando dEle e de Sua autoridade, de igual modo, por Sua própria submissão às Escrituras, Ele testemunhou da autoridade delas. Assim como Ele se curvou diante da instrução de Seu Pai dada em Sua Bíblia (nosso Antigo Testamento), de igual maneira Ele requer que Seus discípulos assim o façam, todavia não isoladamente, mas em conjunto com o testemunho apostólico acerca dEle, testemunho que ele passou a inspirar mediante a Sua dádiva do Espírito Santo. Desta maneira, os cristãos revelam-se servos fiéis de seu Senhor, por se curvarem diante da instrução divina dada nos escritos proféticos e apostólicos que, juntos, constituem nossa Bíblia.

Ao confirmarem a autoridade um do outro, Cristo e as Escrituras fundem-se numa única fonte de autoridade. O Cristo biblicamente interpretado e a Bíblia centralizada em Cristo e que O proclama são, desse ponto de vista, uma só coisa. Assim como a partir do fato da inspiração inferimos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz, assim também a partir do relacionamento revelado entre Jesus Cristo e as Escrituras podemos igualmente declarar que aquilo que as Escrituras dizem, Cristo diz.

Infalibilidade, Inerrância, Interpretação

As Escrituras Sagradas, na qualidade de Palavra inspirada de Deus que dá testemunho oficial acerca de Jesus Cristo, podem ser adequadamente chamadas de infalíveis e inerrantes. Estes termos negativos possuem especial valor, pois salvaguardam explicitamente verdades positivas.

Infalível significa a qualidade de não desorientar nem ser desorientado e, dessa forma, salvaguarda em termos categóricos a verdade de que as Santas Escrituras são uma regra e um guia certos, seguros e confiáveis em todas as questões.

Semelhantemente, inerrante significa a qualidade de estar livre de toda falsidade ou engano e, dessa forma, salvaguarda a verdade de que as Santas Escrituras são totalmente verídicas e fidedignas em todas as suas afirmações.

Afirmamos que as Escrituras canônicas sempre devem ser interpretadas com base no fato de que são infalíveis e inerrantes. No entanto, ao determinar o que o escritor ensinado por Deus está afirmando em cada passagem, temos de dedicar a mais cuidadosa atenção às afirmações e ao caráter do texto como sendo uma produção humana. Na inspiração Deus utilizou a cultura e os costumes do ambiente de seus escritores, um ambiente que Deus controla em Sua soberana providência; é interpretação errônea imaginar algo diferente.

Assim, deve-se tratar história como história, poesia como poesia, e hipérbole e metáfora como hipérbole e metáfora, generalização e aproximações como aquilo que são, e assim por diante. Também se deve observar diferenças de práticas literárias entre os períodos bíblicos e o nosso: visto que, por exemplo, naqueles dias, narrativas são cronológicas e citações imprecisas eram habituais e aceitáveis e não violavam quaisquer expectativas, não devemos considerar tais coisas como falhas, quando as encontramos nos autores bíblicos. Quando não se esperava nem se buscava algum tipo específico de precisão absoluta, não constitui erro o fato de ela existir. As Escrituras são inerrantes não no sentido de serem totalmente precisas de acordo com os padrões atuais, mas no sentido de que validam suas afirmações e atingem a medida de verdade que seus autores buscaram alcançar.

A veracidade das Escrituras não é negada pela aparição, no texto, de irregularidades gramaticais ou ortográficas, de descrições fenomenológicas da natureza, de relatos de afirmações falsas (por exemplo, as mentiras de Satanás), ou as aparentes discrepâncias entre uma passagem e outra. Não é certo jogar os chamados fenômenos das Escrituras contra o ensino da Escritura sobre si mesma. Não se devem ignorar aparentes incoerências. A solução delas, o­nde se possa convincentemente alcança-las, estimulará nossa fé, e, o­nde no momento não houver uma solução convincente disponível, significativamente daremos honra a Deus, por confiar em Sua garantia de que Sua Palavra é verdadeira, apesar das aparências em contrário, e por manter a confiança de que um dia se verá que elas eram enganos.

Na medida em que toda a Escritura é o produto de uma só mente divina, a interpretação tem de permanecer dentro dos limites da analogia das Escrituras e abster-se de hipóteses que visam corrigir uma passagem bíblica por meio de outra, seja em nome da revelação progressiva ou do entendimento imperfeito por parte do escritor inspirado.

Embora as Sagradas Escrituras em lugar algum estejam limitadas pela cultura, no sentido de que seus ensinos carecem de validade universal, algumas vezes estão culturalmente condicionadas pelos hábitos e pelas idéias aceitas de um período em particular, de modo que a aplicação de seus princípios, hoje em dia, requer um tipo diferente de ação (por exemplo, na questão do corte de cabelo e do penteado das mulheres, cf. 1 Co 11).

Ceticismo e Crítica

Desde a Renascença, e mais especificamente desde o Iluminismo, têm-se desenvolvido filosofias que envolvem o ceticismo diante das crenças cristãs básicas. É o caso do agnosticismo, que nega que Deus seja cognoscível; do racionalismo, que nega que Ele seja incompreensível; do idealismo, que nega que Ele seja transcendente; e do existencialismo, que nega a racionalidade de Seus relacionamentos conosco. Quanto esses princípios não bíblicos e antibíblicos infiltram-se nas teologias do homem a nível das pressuposições, como freqüentemente acontecem hoje em dia, a fiel interpretação das Sagradas Escrituras torna-se impossível.

Transmissão e Tradução

Uma vez que em nenhum lugar Deus prometeu uma transmissão inerrante da Escritura, é necessário afirmar que somente o texto autográfico dos documentos originais foi inspirado e manter a necessidade da crítica textual como meio de detectar quaisquer desvios que possam ter se infiltrado no texto durante o processo de sua transmissão. O veredicto dessa ciência é, entretanto, que os textos hebraicos e grego parecem estar surpreendentemente bem preservados, de modo que tempos amplo apoio para afirmar, junto com a Confissão de Westminster, uma providência especial de Deus nessa questão e em declarar que de modo algum a autoridade das Escrituras corre perigo devido ao fato de que as cópias que possuímos não estão totalmente livres de erros.

Semelhantemente, tradução alguma é perfeita, nem pode sê-;p, e todas as traduções são um passo adicional de distanciamento dos autographa. Porém, o veredicto da lingüística é que pelo menos os cristãos de língua inglesa estão muitíssimo bem servidos na atualidade com uma infinidade de traduções excelentes e não têm motivo para hesitar em concluir que a Palavra verdadeira de Deus está ao seu alcance. Aliás, em vista da freqüente repetição, nas Escrituras, dos principais assuntos de que elas tratam e também em vista do constante testemunho do Espírito Santo a respeito da Palavra e através dela, nenhuma tradução séria das Santas Escrituras chegará a de tal forma destruir seu sentido, a ponto de tornar inviável que elas façam o seu leitor "sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).

Inerrância e Autoridade

Ao confiarmos que a autoridade das Escrituras envolve a verdade total da Bíblia, estamos conscientemente nos posicionando ao lado de Cristo e de Seus apóstolos, aliás, ao lado da Bíblia inteira e da principal vertente da história da igreja, desde os primeiros dias até bem recentemente. Estamos preocupados com a maneira casual, inadvertida e aparentemente impensada como uma crença de importância e alcance tão vastos foi por tantas pessoas abandonada em nossos dias.

Também estamos cônscios de que uma grande e grave confusão é resultado de parar de afirmar a total veracidade da Bíblia, cuja autoridade as pessoas professam conhecer. O resultado de dar esse passo é que a Bíblia que Deus entregou perde sua autoridade e, no lugar disso, o que tem autoridade é uma Bíblia com o conteúdo reduzido de acordo com as exigências do raciocínio crítico das pessoas, sendo que, a partir do momento em que a pessoa deu início a essa redução, esse conteúdo pode em princípio ser reduzido mais e mais. Isto significa que, no fundo, a razão independente possui atualmente a autoridade, em oposição ao ensino das Escrituras. Se isso não é visto e se, por enquanto, ainda são sustentadas as doutrinas evangélicas fundamentais, as pessoas que negam a total veracidade das Escrituras podem reivindicar uma identidade com os evangélicos, ao mesmo tempo em que, metodologicamente, se afastaram da posição evangélica acerca do conhecimento para um subjetivismo instável, e não acharão difícil ir ainda mais longe.

Afirmamos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz. Que Ele seja glorificado. Amém e amém.

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Retirado do apêndice do livro O ALICERCE DA AUTORIDADE BÍBLICA
James Montgomery Boice
Páginas 183 a 196
Editado por: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova
Edição: 1989; Reimpressão: 1997.



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Você deseja ser Rico?

Os que desejam ser ricos... (1Tm 6.9,10). Havendo exortado Timóteo a viver contente e a descartar a ansiedade pelas riquezas, o apóstolo agora o adverte sobre quão perigoso pode tornar-se um incontrolável anelo por elas, especialmente nos ministros da Igreja, os quais constituem a principal preocupação do apóstolo aqui. Não são as riquezas em si a causa dos males que Paulo menciona aqui, mas o profundo apego a elas, mesmo quando a pessoa seja pobre. E aqui ele descreve não só o que geralmente sucede, mas o que quase sempre inevitavelmente sucede. Pois todos quantos têm como seu ambicioso alvo a aquisição de riquezas se entregam ao cativeiro do diabo.

E mui veraz o que diz o poeta pagão: 'Aquele que quer ser rico, também quer ser rapidamente rico." E assim, segue-se que todos quantos violentamente desejam ficar ricos são arrebatados por sua própria impetuosidade. Essa é a fonte de sua loucura, ou, melhor, desses loucos impulsos que por fim os mergulharão na ruína. Esse é um mal universal, mas ele se revela muito mais conspicuamente nos pastores da Igreja, pois a avidez os irrita tanto que não se deterão diante de nada, por mais disparatado que seja, tão logo o brilho da prata ou do ouro ofusque seus olhos.

Porque o amor ao dinheiro... Não é preciso ser exageradamente cauteloso em comparar outros vícios com este. É verdade que a ambição e o orgulho às vezes produzem frutos piores que os da cobiça; não obstante, a ambição não provém da cobiça. O mesmo é verdade a respeito das paixões sexuais. Mas não era a intenção de Paulo incluir sob o tema da cobiça todo gênero de vício que nos seja possível nomear. O que então ele quis dizer? Simplesmente que inumeráveis males provêm dela, justamente como amiúde usamos a mesma forma de expressão quando dizemos que a discórdia, ou a glutonaria, ou a embriaguez, ou qualquer outro vício dessa espécie produz todo tipo de males. E é especialmente verdade no tocante à vil avidez por lucros, que não há males que este não produza farta e diariamente: incontáveis fraudes, falsidades, perjúrio, impostura, extorsão, crueldade, corrupção judicial, contendas, ódio, envenenamentos, homicídios e toda sorte de crimes. Afirmações desse gênero ocorrem com muita freqüência nos escritores pagãos, e aqueles que aplaudem as hipérboles em Horácio ou em Ovídio não têm direito algum de se queixar, dizendo que a linguagem de Paulo é extremamente extravagante. Diariamente a experiência comprova que o apóstolo simplesmente descreveu os fatos como realmente são. Lembremo-nos, porém, de que os crimes que procedem da avareza podem também provir, e com freqüência provêm, da ambição, ou da inveja, ou de outras más disposições.

E nessa cobiça alguns se desviaram da fé. O termo grego, [oregomenoi], aqui, não é usado com propriedade, ao dizer o apóstolo que eles amaram intensamente o dinheiro; no entanto, não há dificuldade alguma quanto ao significado, ou seja, que a avareza é a fonte do maior de todos os males - a apostasia da fé. Os que sofrem dessa praga gradualmente se degeneram até que renunciam completamente a fé. Daí as dores de que ele fala, pois tomo a sua expressão como sendo os medonhos tormentos da consciência que geralmente fustigam os homens que não mais acalentam qualquer esperança; embora Deus conte também com outros métodos para atormentar os cobiçosos e convertê-los em seus próprios atormentadores.


Autor: João Calvino

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Chamados Segundo o Seu Propósito

(Sermão pregado em 13 de outubro de 1985)

Romanos 8:28-30

Romanos 8 é um dos capítulos mais sangrentos do Novo Testamento. Veja os versículos 35 e 36:

“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: ‘Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro'”.

Porém, sobre esta violenta pintura da vida cristã, Paulo escreve a palavra ESPERANÇA com um grande pincel vermelho. Por exemplo, no verso 37, ele exclama: “Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores”. Não apenas vencedores, mas mais que vencedores! Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e espada não são apenas vencidos; são mais que vencidos: se tornam servos para nosso bem.

Este é o significado do aclamado versículo 28: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. As versões diferem um pouco aqui. A NTLH diz: “Pois sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles a quem ele chamou de acordo com o seu plano” . E a “Revista e Atualizada” diz: ”Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

Para o meu estudo, estou inclinado a ler a KJV (N.T.: King James Version) como a mais fiel ao palavreado original de Paulo. Mas a diferença não é tão grande que você tenha de aceitar minha palavra para o que digo. Todas as versões significam basicamente que Deus está tão soberanamente no controle do mundo que todas as coisas que acontecem aos cristãos são ordenadas de tal forma que elas servem ao nosso bem. Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e espada – todas trabalham juntas para o bem dos que amam a Deus.

Então a rude esperança do crente não é que nós escaparemos da angústia ou do perigo, ou fome, ou de um massacre, mas que o Deus Todo-Poderoso fará cada uma de nossas agonias um instrumento de Sua misericórdia para o nosso bem. “Vocês planejaram o mal contra mim”, José disse a seus irmãos que o tinham vendido como escravo, “mas Deus o tornou em bem”. É assim também com toda calamidade que acontece àqueles que amam a Deus. Deus a torna em bem.

Seis quarteirões a oeste daqui, na 7th Street, um alicerce está sendo escavado para um novo prédio. Uma gigante cavadeira mecanizada fica no centro do terreno, arrancando fora toda a sujeira e lançando em caminhões de lixo que a transportam para longe. Observando da borda, eu estimo que o buraco já tem 5 ou 6 andares de profundidade. O que nós podemos inferir disso? Eu deduziria que alguma coisa muito grande será assentada no terreno, já que um alicerce muito profundo está sendo cavado. Quanto maior o prédio, de maior alicerce ele precisará.

Quando se trata da arquitetura de promessas, não existe um prédio maior que Romanos 8:28. A estrutura é absolutamente assombrosa em seu tamanho. É grandiosa. É infinitamente sábio, infinitamente poderoso Deus se comprometer a fazer todas as coisas benéficas para seu povo. Não apenas coisas boas, mas coisas horríveis, como tribulação, angústia, perigo e morte. Que tijolo você colocaria no topo desta promessa arranha-céu para fazê-la mais alta? “Todas as coisas” significa todas as coisas.

Se você vive debaixo desta promessa grandiosa, sua vida é tão sólida quanto uma rocha. Nada pode levá-lo além das paredes de Romanos 8:28. Do lado de fora desta promessa tudo é confusão, ansiedade, medo, incerteza, abrigos inúteis de drogas anestésicas, o chão perigoso de planos de aposentadoria, fraquíssimas forticações de mísseis antibélicos e uma centena de substitutos para Romanos 8:28.

Uma vez que você entra pela porta da grandiosa e inabalável estrutura de Romanos 8:28, tudo muda. O que vem em sua vida é estabilidade, força e liberdade. Você simplesmente não pode ir além disso. A confiança num Deus soberano que governa para nosso bem toda a dor e todo o prazer que iremos experimentar nos dá refúgio, segurança e poder absolutamente incomparáveis em nossas vidas. Nenhuma promessa em todo mundo supera a altura, a largura e o peso de Romanos 8:28.

Conseqüentemente, a base dessa estrutura grandiosa deve ser extraordinariamente profunda e poderosa. É claro que é. E é sobre isto que nossa série de quatro semanas tratará. O versículo 29 começa com “porque”. Isto significa que a base, o alicerce, o fundamento desta grandiosa estrutura em Romanos 8:28 é o que segue. E não deveríamos nos supreender que haja uma fantástica fundação para suportar uma fantástica promessa.

Meu objetivo nestas quatro semanas é guiar você através da fundação da promessa de Romanos 8:28. Minha oração é que sua confiança nesta promessa cresça e que estabilidade, força, liberdade, esperança e alegria renovadas em sua vida sejam provas vivas para o mundo de que nosso Deus reina. A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus. Nós lutamos para nossa fé ser cada vez mais forte. Conseqüentemente, isto nos leva a dar atenção verdadeira à Palavra de Deus.

Então, eu entendo que o versículo 28 contém uma promessa (todas as coisas cooperam para o bem) e duas descrições dos beneficiados por ela (aqueles que amam a Deus e aqueles que são chamados segundo Seu propósito). Ao descrever os beneficiados pela promessa, Paulo nos dá uma pequena prévia do profundo alicerce que ele desenvolverá nos versículos 29 e 30.

Especialmente quando ele diz que os beneficiados são os “chamados segundo o propósito de Deus”, Paulo aponta para os versos 29 e 30 mais adiante. O versículo 29 é uma explicação do “propósito de Deus” (“Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”). E o versículo 30 desenvolve as implicações do “chamados” no versículo 28 (“aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”).

Então meu plano é devotar a mensagem desta manhã a Romanos 8:28 e sua fundação resumida, e à noite me dedicarei às lições do versículo 29. Nas três semanas seguintes, manhã e noite, no versículo 30.

A questão que nós abrimos no versículo 28 é: Quem são os beneficiados por esta promessa grandiosa? Quem pode ter certeza de que todas as dores em sua vida são realmente uma sábia e boa terapia de um Deus soberano para trazer o bem?

Paulo dá duas respostas. Ou ele descreve de dois modos uma única resposta. Ele define os beneficiados da promessa primeiro pelo que eles fazem em favor de Deus, e segundo pelo que Deus fez em favor deles. Os beneficiados pela promessa são as pessoas que amam a Deus. Este é o primeiro e grande mandamento, que você ame o Senhor, seu Deus. Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam.

Então, em segundo lugar, Paulo descreve os beneficiados pela promessa como “aqueles que são chamados segundo Seu propósito”. Qual o sentido de dizer que, além de amarem ao Senhor, estas pessoas também são “chamadas segundo o propósito de Deus”? Para responder esta questão, vamos analisar duas passagens em que Paulo cita o chamado de Deus e duas em que ele refere-se ao propósito de Deus.

A pista mais próxima sobre o significado dos “chamados” no verso 28 é o verso 30, em que Paulo diz: “aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou”. O que aprendemos neste verso é que Deus justifica todo aquele que Ele chama. Ele os perdoa. Ele esquece suas dívidas. Ele os trata como retos. Eles são Seus filhos. “Aos que chamou, a estes também justificou”.

Isto significa que o chamado referido aqui não é o chamado geral que se dá a todo homem pela pregação do evangelho. Se fosse assim, todo aquele que ouvisse o evangelho seria justificado. Porque o verso 30 diz “aos que chamou, a estes também justificou”. Se todo mundo que ouve Billy Graham os chamando para Cristo pela televisão é “chamado”, no sentido de Romanos 8:30, então todos também estão justificados. Mas Paulo claramente ensina que nem todos os chamados no sentido geral são justificados. “Nós somos justificados pela fé!” (Romanos 5:1). Nem todo aquele que é chamado no sentido geral tem fé e, conseqüentemente, nem todos são justificados. Mais ainda, Paulo diz “aqueles que são chamados SÃO justificados”.

Paulo nos explica isto em 1 Coríntios 1:23-24: “ 23 Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, 24 mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, é sabedoria de Deus”. Observe cuidadosamente que Paulo prega Cristo para os judeus e para os gentios sem discriminação. Neste sentido, todos são chamados. Mas este não é o sentido que Paulo usa para a palavra. Ele diz que entre aqueles que ouviram o chamado geral, existem aqueles que são os “chamados”. E a diferença é que aqueles que são chamados no sentido deste trecho param de considerar Cristo como um escândalo ou loucura. Em lugar disso, eles o consideram o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Verso 24: mas para os que são chamados, tanto judeus quanto gregos, Cristo se torna poder de Deus e sabedoria de Deus.

Portanto, Paulo ensina que, quando o evangelho é pregado, Deus chama alguns tão poderosamente que seus corações e mentes são mudados em relação a Jesus Cristo, e eles O abraçam em fé e amor. Por isso Paulo pode dizer em Romanos 8:30 que “aqueles que são chamados são justificados”, ainda que a justificação só venha pela fé – o chamado de Deus produz fé; abre os olhos dos cegos para que possam ver que Jesus é sabedoria e poder de Deus.

O chamado de Deus que Paulo tem em mente não é como chamar um cachorro: “Aqui, Rex! Aqui! Vem cá, garoto!”. Rex pode ou não vir. O chamado de Deus é como o chamado de Jesus para o cadáver de Lázaro: “Lázaro, vem para fora!”. O chamado contém o poder de produzir o que ele ordena. É um chamado eficaz. Por isso Paulo pode dizer em Romanos 8:30 que todos “que chamou, também justificou”. A certeza de sua justificação está no fato de que a fé pela qual os homens são justificados é produzida pelo chamado eficaz de Deus.

Assim, quando Romanos 8:28 diz “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito”, isto quer dizer que os beneficiados desta promessa grandiosa são aqueles que uma vez não amavam a Deus, mas agora amam. E o fazem porque, de forma eficaz, o Deus os chamou das trevas para a luz, da descrença para fé, da morte para a vida, e plantou em seus corações amor por Ele. O chamado eficaz de Deus é o novo cumprimento completo da aliança de Deuteronômio 30:6 – “Também o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para que vivas”.

A razão pela qual os beneficiados de Romanos 8:28 podem ter certeza de que Deus certamente irá cumprir sua promessa a eles é que o próprio Senhor os chamou irresistivelmente para sua aliança e os capacitou para cumprí-la. Uma coisa é Deus enviar uma mala-direta endereçada “a quem possa interessar” convidando todos para o banquete em que todas as coisas cooperam para o bem. Mas outra, totalmente diferente, seria se Deus dirigisse até sua porta, caminhasse, pegasse você, lhe colocasse no carro, dirigisse até o banquete de Romanos 8:28, desse vestes de amor apropriadas para o jantar e assentasse você à destra de seu Filho. Não seria uma iniciativa pessoal de Deus, como no segundo caso, que daria uma confiança muito mais profunda de que Ele realmente pretende conquistar você com misericórdia todos os dias e fazer tudo cooperar para seu bem?

Nós negamos esta profunda e maravilhosa segurança quando não abraçamos a doutrina da soberania divina, do chamado eficaz. Há um poder que chega à vida de um cristão quando ele sabe como veio a ser beneficiado por esta promessa incomparável. E como se não fosse o bastante para nos assegurar que nos tornamos beneficiados pelo chamado eficaz de Deus, Paulo adiciona as palavras “segundo seu propósito”. Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo Seu próposito.

Qual o motivo de Paulo adicionar este complemento “segundo seu propósito”? Eu acredito que foi para tornar perfeitamente claro e certo que o chamado de Deus se origina em Seu propósito e não no nosso. O chamado de Deus não é uma resposta a algo que nós prometemos fazer. Deus tem Seus próprios propósitos, altos e sagrados, que governam aqueles que Ele chama, e Seu chamado concorda com estes propósitos, não com os nossos. Ele não dirigiu até minha porta, me pegou, e me levou ao banquete porque eu concordei com meu propósito de salvação, mas porque concordou com o dEle. Se ele estivesse esperando eu ter o propósito de ser salvo, eu ainda estaria assistindo televisão em casa.

Nós podemos ver a força desse pequeno trecho (“segundo seu propósito”) se olharmos outro lugar em Romanos onde o termo aparece, a saber, Romanos 9:11. No contexto Paulo está tentando mostrar que nem todos os israelitas são verdadeiros israelitas (versículo 6), nem todos são filhos de Abraão só porque descendem dele (v. 7) e a diferença se um é um verdadeiro israelita ou verdadeiro filho de Abraão depende do propósito e chamado de Deus, e não do homem. Observe os versos 10 a 12:

“E não somente isso, mas também a Rebeca, que havia concebido de um, de Isaque, nosso pai 11 (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), 12 foi-lhe dito: O maior servirá o menor”.

O motivo desta passagem é ilustrar pelo exemplo de Esaú e Jacó (os filhos gêmeos de Rebeca) a natureza do chamado de Deus. Jacó e Esaú estavam no mesmo útero. Eles tinham o mesmo pai. Eles não tinham feito nada bom ou mau. E Deus concedeu seu favor a Jacó, e não a Esaú. Por quê? Por que não esperar que eles crescecem e tivessem uma chance de mostrar qual dos dois teria méritos que o fariam justo diante de Deus, para então chamar um e outro não? Porque Deus revelou sua escolha antes mesmo de eles nascerem?

Versículo 11 dá a resposta, e usa muito das palavras de Romanos 8:28. “Para que o PROPÓSITO de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que CHAMA”. O chamado incondicional de Deus é livre de quaisquer méritos humanos, é o meio pelo qual Deus mantém seu propósito eletivo. Se Ele não chamasse os homens ignorando seus méritos, mas o fizesse baseado nisto, então o propósito divino da eleição caíria por terra.

Deus seria como um candidato político procurando votos, indo de eleitor a eleitor para ver se ele poderia ser eleito Senhor. Deus proporia, mas o homem decidiria. O tamanho da base política de Deus estaria dependendo, no fim, do voto do homem. O sucesso das missões cristãs, e a possibilidade de converter toda tribo, raça, língua e nação seria definido pelo voto humano.

Mas o apóstolo Paulo nada disse de um Deus assim. Ao contrário, ele diz que Deus favoreceu a Jacó e não Esaú antes de eles nascerem para que o SEU propósito segundo a eleição permanecesse firme, não por causa de suas obras, mas somente baseado em Seu chamado – o chamado segundo Seu propósito de eleição.

O que é, então, o alicerce de Romanos 8:28? Como aqueles que amam a Deus terão certeza de que tribulação, angústia, fome, nudez, perigo, espada ou morte irão de fato cooperar para o seu bem? A resposta é que aqueles que amam a Deus também são aqueles que foram chamados por Deus, e este chamado não é baseado em algo vacilante e incerto como meu comprometimento com Deus, mas somente em seu propósito eterno de eleição; propósito pelo qual Ele me concedeu graça sem levar em conta qualquer ação minha.

Nossa confiança de que todas as amargas e felizes coisas em nossa vida irão se tornar servos do nosso bem não é baseada simplesmente no fato de que há uma promessa na Bíblia. Mas também se baseia no fato de que, desde a eternidade, Deus, em Sua grande misericórdia nos escolheu para aproveitar Seu banquete e nos deu evidência de nossa eleição por chamar-nos para termos um coração (não de pedra!) que ama a Deus.

“Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito”.

Amém.

Autor: John Piper


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Traduzido por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
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